segunda-feira, 31 de agosto de 2015

DESGOSTO DE PAI

Corte de enxada,
Queimadura de vela.
Dor de furada,
de grampo na cela.
É como  o entalo
Da febre amarela.
Bacia furada,
Na beira do rio.
Trem descarregado
Ao lado do trilho.

Osso de galinha,
Atravessado na "guela".
como pressão alta,
A dor na garganta.
Mordida de anta,
Fogo de lagarta.
O corte de lata
Aberta na tampa.
Como candeeiro,
Que não tem pavio.

O  frio na muleira,
De dor de barriga,
Lençol furado,
Em noite de frio.
Uivo do lobo
vendo a lua cheia
Trator atolado
Em banco de areia
Como embolador,
Que perdeu desafio.

Injeção na testa,
Sem anestesia,
Palhaço no palco
sem ter alegria,
Pneu furado,
em estrada deserta.
Voo de partida sem ter hora certa,
Como a lagarta,
matando o milho.

Assim,
É dona Realidade,
A provocar meu Poema.
Que procura flores para rimar,
E não acha.
Só_em álbum de fotografia.
E por isso pena.

Como coração de Pai
Tendo_desgosto de filha.


ElsonMiranda




quinta-feira, 27 de agosto de 2015

RIMA MISTURADA

Maria no Facebook,
Fim de feira no Instagram,
Filme de final do mundo,
Soin com óculos ray-ban.

Outdoor na buraqueira.
Pipoca de microondas.
Rapadura com adoçante.
Milkshake com fubá.

DVD em radiola.
Fiambre com mariola.
O cavalo e a biroba,
Com lente "multifocá".

Dois pé de légua tirana.
Dois pá de Chinelo "iguá".
Dois coração que se beijam
Na tela do celular.

Se você adivinhar.
Ou traduzir numa boa,
Que cantiga que entoa
A cigarra ao namorar.

Eu te conto meu segredo,
Porque é de contar nos dedos,
Excluindo os Xepeiros,
Os que podem explicar:

De onde a nasce o Poema,
Com_essa rima misturada,
Com cara "malamanhada",
De matuto em "Capitá".

ElsonMiranda




quarta-feira, 26 de agosto de 2015

DISCO DE VINIL

Disco de Vinil.
Gira, gira, gira como  mentira;
que traz notícias boas
que não são nada.

Mas,
Gira, gira, gira como a verdade;
que arrasta a nossa vida
rodando em disparada.

O Disco de Vinil.
Compacto e LP.
Contrário do DVD.
Primo-longe do CD.

Que guardava no escuro
poucas trilhas de memória.
E só na ponta da_ agulha
contava sua história.

Como baiano,
na ponta da peixeira.
Como fósforo,
deslizando sobre a caixa.

O caminhão,
roncando detrás da marcha.
E sertanejo,
solto no cabo da enxada.

ElsonMiranda


RUAS DO BRASIL

Ruas do Brasil,
Túnel completo de tempo.
Plantio de cebolinha e coentro.
Num céu vermelho encarnado.

O meu tom, não nem tom.
Nem tão pouco rima, nem métrica,
Não tem forma, nem estética,
Nem presente, nem passado.

Ao meu lado, o gato mia,
dormindo, sonhando acordado.
E o galo atrasado,
só canta ao meio dia.

Ruas do Brasil,
Poesia.
De um tempo belo assanhado,
das canas dos boias frias,
pelo salário atrasado.

Das grandes melancolias,
Das grades dos humilhados.
Chorando ao meio dia,
o canto dos exilados.

Só podia...
Asfalto quente, poeira_ fria.
Garganta estatelada.
De tanto pedir socorro,

E ninguém responder nada.


ElsonMiranda







TRIBUTO A AMARILDO

Eu sou cria da Rocinha,
A colher, só de Pedreiro.
Não preciso de dinheiro,
Eu tenho tudo que quero.

Sies filhinhos, um bruguelo.
Pai e mãe, doze irmãos.
Barraco: é caminhão
desfile de carnaval.

O meu pai, homem do mar,
Minha mãe, é das panelas.
Aqui da minha janela
vejo o Cristo Redentor

São três horas da manhã.
Ouço passos na calçada.
Verde louro da bandeira.
Terra adorada, azul anil.
Intercâmbio com Brasil.
Tão falando Espanhol...

Teu e-mail tá no Times,
Tua vida tá no Game,
Teu futuro tá no Post.

Lá no Planalto Central,
Armadura de concreto,
Abstrato Natural.

Meu Amigo Amarildo,
Não preocupa comigo,
Vai acabar tudo bem.
Já parei de bater bola,
Tô terminando a escola,
Tê vejo o ano que vem.

ElsonMiranda


"Amarildo Dias de Souza (Rio de Janeiro1965/2013) é um ajudante de pedreiro brasileiro que ficou conhecido nacionalmente por conta de seu desaparecimento, desde o dia 14 de julho de 2013, após ter sido detido por policiais militares e conduzido da porta de sua casa, na Favela da Rocinha, em direção a sede da Unidade de Polícia Pacificadora do bairro." 

terça-feira, 25 de agosto de 2015

TERRA BRASILIS

Estamos aqui,
Na Terra Brasilis.
Onde o sonho vai e vem.
Como a cotação do dólar,

Na bolsa de valores.

Como os brincos de Dolores,
Na cadeira de balança.
Ouvindo o som dos tambores,
No_ensaio da Timbalada.


Onde todos os amores,
ocorrem em Copacabana.
E festas: só nas telas,
todo dia da semana.

Onde as alegrias enganam,
Como resultado falso de gravidez.
Como a galinha pedrês,
Querendo ser uma guiné.

Reino de camaleão,
Sambódromo de muitas cores.
Palácios de mutias flores.
Borracha, plastificada.

Onde os heróis,
têm vida de mosca:
Nascem de manhã.
De noite, não são mais nada.

Como o monstro da lagoa,
que sobe triunfante.
E repentinamente: some.
Sem deixar pista de nada.


Como  a gansa, desvairada;
que num impulso animal,
mata os seus próprios filhos,
como quem dança carnaval.

ElsonMiranda

EU E VOCÊ

Assim sou  Eu e Você,
Tão juntos que ninguém vê.
Como o sal no sachê.
E o açúcar na garapa.

Como a tinta e a lata.
a corda e o violão.
O amor e o coração,
O destino e a estrada.

Digitação de e-mail,
e a caixa de entrada.
o início, o fim e o meio
de um cordel em galopada.

Peixada com açafrão.
E assai na tigela.
A coceira na titela,
e a mão desocupada

A placa de contramão,
Com a seta invertida,
substância embutida
que o exame não mostra.

Assim é eu e você.

Tão juntos que quem nos vê
Jura que ta vendo um só
Como o peixe no anzol,
E a batata no purê.

ElsonMiranda











RIMA LIGEIRA

Minha rima é reta,
incerta, muito ligeira.
Como gume de fieira.
Como quina de perfil.

Flecha de pau Brasil
Arco de violino.
Que voa sem estampido,
Como bala de fuzil.

Espinho de Piquizeiro,
"Filepa" de Juazeiro.
Cinzenta o ano inteiro.
Orquídea metalizada

Na mesa, avermelhada
Algaroba, em cruzamento.
Da cidade em movimento.
Como beira de estrada.

Parede enfumaçada,
Veio passou, ninguém viu
Como a mensagem não lida,
Deletada do perfil.

ElsonMiranda

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

HOMEM DE METAL

Fronte firme,
Como argila de oleiro.
Pés calçados, como vaca no curral.
Siso: Excelente. Passo:Ligeiro.
Assim é o novo Homem de Metal.

Não ter sono: é o seu natural,
Escuridão: não o impede de ver nada,
Lugar preferido: uma só estrada
De preferência: Ligando o mundo inteiro.

Nem tem pai nem mãe.
Nada disso interessa
Estar sozinho, é seu lema, sua meta,
Comer e beber, quase sempre lhe faz mal.
Extraordinariamente assim é: o novo homem de metal.

Raramente sente frio,
Seu aposento: site ou portal,
O seu sangue é eletrônico,
Seu Sentimento: digital,
Já se encontra em fase de teste: o Novo Homem de Metal.

ElsonMiranda

O TEMPO, O MEDO


Medo, tempo; tempo e medo.
Não guarda segredos do que se passou.
Nem leva no peito, o medo; de que tantos falam.
Nem fica calado, gemendo de dor.

Passando o medo, não guarda segredos.
Avoluma marcas de rastros sem cor.
O tempo traz medo; 
... mas não tenha medo;
Só anda ligeiro; e só anda só.

Quando se arrasta, não faz alianças.
Não tem esperança.
E nem solidão.
É farto, afã. Seu riso é belo.
Seu papo amarelo. Seu carro marrom.

Hoje namora o tempo moderno.
Que usa chinelo, e tem celular.
Que arma arapucas pra robô gigante
Nos altos falantes à beira do mar

Sua alma vive,
Entre arranha-céus;
E produz seu mel no engarrafamento;
No estacionamento, armou sua cela;
e à luz de vela, esconde o sol.

A poesia, estranha e bela;
Aguda e grosseira, vai se levantar.
Já que os homens, perderam a teia;
Chegou a hora da rima tentar.

Clamam as rosas, o rio goteja,
A vida esperneia pra se levantar.
Menina Shopping;
Cor de ferrugem;
Cheiro de ruge; 
Flor de juá.

Por favor, não tenha medo;
Há esperança, aí ao seu lado.
O tempo esconde seu maior segredo:
Depois que passa,
Vira PASSADO.

ElsonMiranda